IV. SEQUÊNCIAS TEXTUAIS E RECURSOS EXPRESSIVOS

 


O domínio sobre as sequências textuais e os diversos recursos expressivos da língua é uma pedra angular para o sucesso em concursos públicos. Esses temas não apenas testam seu conhecimento técnico, mas também sua capacidade de análise crítica e interpretação refinada de textos. Vamos esmiuçar esses tópicos com foco no que é crucial para as provas.

 

1.       Sequências Textuais: Relações Lógico-Discursivas

 

As sequências textuais (ou tipologias textuais) são modos de organização do discurso que apresentam características linguísticas e funcionais específicas. Embora um texto concreto (gênero textual) possa mesclar diferentes sequências, as provas costumam focar na predominância e nas características centrais das sequências narrativa e argumentativa.

A.      Sequência Narrativa: O que é: Organiza-se em torno de uma sucessão de eventos, reais ou fictícios, situados no tempo e no espaço, envolvendo personagens.  

Relações Lógico-Discursivas Essenciais: Temporalidade: É a espinha dorsal da narrativa. A progressão dos eventos é marcada por:  Indicadores de tempo: Advérbios (ontem, agora, depois), locuções adverbiais (certa manhã, anos mais tarde), conjunções temporais (quando, enquanto, assim que), tempos verbais (pretérito perfeito e imperfeito para as ações, presente histórico para vivacidade). Ordenação: Cronológica (linear) ou com anacronias (flashbacks/analepses, flashforwards/prolepses). Causalidade: As ações e eventos estão interligados por relações de causa e efeito. Um acontecimento leva a outro, impulsionando o enredo. Finalidade: As ações das personagens muitas vezes são motivadas por objetivos ou intenções.

Elementos Constitutivos (frequentemente cobrados):  Enredo: A trama, a sucessão de acontecimentos. Personagens: Protagonista, antagonista, coadjuvantes; sua caracterização (física, psicológica). Tempo: Cronológico (datas, horas) ou psicológico (fluxo de consciência). Espaço: Onde ocorrem os eventos. Narrador (Foco Narrativo):  Narrador-personagem (1ª pessoa): Participa da história. Narrador-observador (3ª pessoa): Conta o que vê, sem acesso à interioridade das personagens. Narrador onisciente (3ª pessoa): Sabe tudo sobre os personagens (pensamentos, sentimentos) e a história.

Como é Cobrado em Concursos:  Identificação do tipo de narrador e análise de seu impacto na narrativa. Reconhecimento da progressão temporal e da ordenação dos eventos. Análise das relações de causa e consequência entre as ações. Interpretação das motivações e dos conflitos das personagens. Identificação de elementos da narrativa (tempo, espaço, personagens principais) em trechos específicos.

Exemplo de Questão: "No trecho X, a utilização do pretérito imperfeito do indicativo contribui para criar um efeito de...? (a) Ação pontual e concluída (b) Descrição de cenário (c) Ação habitual no passado (d) Indicação de futuro próximo (e) Ordem direta." (Resposta mais provável, dependendo do contexto: b ou c).

Exemplo de Questão: "A relação entre o evento Y e o evento Z, no terceiro parágrafo, é de: (a) Contraste (b) Causalidade (c) Comparação (d) Finalidade (e) Concomitância."

B.      Sequência Argumentativa: O que é: Organiza-se em torno da defesa de uma tese (ponto de vista) por meio de argumentos consistentes, com o objetivo de persuadir o interlocutor.

Relações Lógico-Discursivas Essenciais (Operadores Argumentativos): São os conectivos que estabelecem as relações entre as ideias e orientam a argumentação. Causa e Consequência: porque, já que, visto que, como, por isso, assim, consequentemente, de modo que. Contraste/Oposição/Concessão: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, embora, apesar de, mesmo que, se bem que. Adição/Enumeração: e, nem, também, além disso, ademais, outrossim. Conclusão/Resumo: logo, portanto, por conseguinte, em suma, enfim, assim. Comparação: como, mais...do que, menos...do que, tão...quanto. Condição: se, caso, contanto que, desde que. Finalidade: para que, a fim de que. Exemplificação/Esclarecimento: por exemplo, isto é, ou seja, a saber. Afirmação/Certeza: certamente, de fato, com certeza.

Estrutura Típica:  Tese: A ideia central a ser defendida. Argumentos: As razões, provas, exemplos que sustentam a tese (podem ser de autoridade, por exemplificação, por comparação, por causa e consequência, etc.). Contra-argumentos (opcional, mas enriquece): Apresentação e refutação de ideias contrárias à tese. Conclusão: Retomada da tese e/ou apresentação de uma proposta de solução.

Como é Cobrado em Concursos:

o    Identificação da tese do texto.

o    Reconhecimento dos argumentos utilizados para sustentar a tese.

o    Identificação e classificação dos operadores argumentativos e a relação lógico-discursiva que estabelecem.

o    Análise da força dos argumentos e da progressão argumentativa.

o    Diferenciação entre fato e opinião.

o    Identificação de estratégias argumentativas (exemplificação, citação de autoridade, comparação, etc.).

o    Exemplo de Questão: "No trecho 'Embora as dificuldades sejam inúmeras, o projeto avançou', a conjunção 'embora' estabelece uma relação de: (a) Causa (b) Consequência (c) Concessão (d) Condição (e) Finalidade." (Resposta: c).

o    Exemplo de Questão: "A tese defendida pelo autor no texto é que..."

II. Recursos Expressivos

São elementos linguísticos utilizados intencionalmente para produzir determinados efeitos de sentido, estilísticos ou emocionais no leitor.

A. Recursos Sonoros (predominantes em textos líricos/poéticos):

·         Estrofação: A organização dos versos em estrofes (dístico, terceto, quarteto, quintilha, sextilha, oitava, décima, etc.).

o    Como é cobrado: Identificação do tipo de estrofe; análise da função da estrofação na progressão das ideias ou na criação de um ritmo específico.

·         Rimas: A identidade ou semelhança de sons no final (mais comum) ou no interior dos versos.

o    Tipos quanto à Posição: Emparelhadas (AA BB), Interpoladas/Opostas (ABBA), Alternadas/Cruzadas (ABAB), Encadeadas (rimando o final de um verso com o início do seguinte).

o    Tipos quanto à Qualidade/Valor: Rica (classes gramaticais diferentes), Pobre (mesma classe gramatical), Rara (palavras de difícil rima), Perfeita (identidade total de sons), Imperfeita (semelhança parcial).

o    Como é cobrado: Classificação das rimas quanto à posição e ao valor; análise do efeito expressivo das rimas (musicalidade, ligação de ideias, destaque de palavras-chave).

o    Exemplo de Questão: "No poema apresentado, as rimas dos versos 1 e 3 e 2 e 4 da primeira estrofe classificam-se, respectivamente, como: (a) Emparelhadas e ricas (b) Alternadas e pobres (c) Interpoladas e raras (d) Alternadas e ricas..."

B. Recursos Semânticos:

·         Conotação e Denotação:

o    Denotação: Sentido literal, dicionarizado da palavra.

o    Conotação: Sentido figurado, subjetivo, que evoca outras ideias, sentimentos ou associações culturais.

o    Como é cobrado: Identificar se palavras ou expressões estão empregadas em sentido denotativo ou conotativo; analisar o efeito de sentido produzido pela escolha conotativa.

o    Exemplo de Questão: "A palavra 'fera' no trecho 'Ele é uma fera nos negócios' está empregada em sentido: (a) Denotativo, referindo-se a um animal selvagem. (b) Conotativo, sugerindo agressividade. (c) Conotativo, indicando grande habilidade. (d) Denotativo, indicando falta de civilidade." (Resposta: c).

·         Figuras de Linguagem: Desvios da norma linguística para criar maior expressividade. As principais são:

o    Metáfora: Comparação implícita ("Seus olhos são estrelas").

o    Comparação (Símile): Comparação explícita, com conectivo ("Seus olhos brilham como estrelas").

o    Metonímia/Sinédoque: Substituição de um termo por outro com o qual mantém uma relação de proximidade ou interdependência (parte pelo todo, autor pela obra, causa pelo efeito, continente pelo conteúdo: "Li Machado de Assis"; "Comeu dois pratos").

o    Personificação (Prosopopeia): Atribuição de características humanas a seres inanimados ou irracionais ("O vento chorava na janela").

o    Hipérbole: Exagero intencional ("Morri de rir").

o    Eufemismo: Suavização de uma expressão desagradável ("Ele partiu desta para melhor").

o    Ironia: Dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica ou humorística ("Que inteligente, derramou café no teclado!").

o    Antítese: Aproximação de palavras ou ideias de sentidos opostos ("O bem e o mal caminham juntos").

o    Paradoxo (Oxímoro): União de ideias contraditórias num mesmo enunciado, que fogem à lógica comum ("Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente").

o    Gradação (Clímax): Sequência de ideias em progressão ascendente ou descendente ("Ele gemeu, gritou, berrou").

o    Anáfora: Repetição de uma mesma palavra ou expressão no início de versos ou frases ("Quando não havia mais nada, quando a esperança se fora...").

o    Aliteração: Repetição de sons consonantais ("O rato roeu a roupa do rei de Roma").

o    Assonância: Repetição de sons vocálicos ("A alma fala na palma da mão").

o    Onomatopeia: Palavra que imita sons ("O tique-taque do relógio").

o    Como é cobrado: Identificação da figura de linguagem em um trecho; análise do efeito de sentido que ela produz no contexto.

o    Exemplo de Questão: "No verso 'A cidade inteira anoiteceu em prantos', identifica-se a seguinte figura de linguagem: (a) Metáfora (b) Hipérbole (c) Eufemismo (d) Ironia (e) Personificação." (Resposta mais provável: b ou e, dependendo da interpretação do "pranto" como literal ou figurado para a cidade).

C. Recursos de Efeitos de Sentido:

·         Seleção Lexical: A escolha consciente das palavras pelo autor. Palavras podem ser mais formais, informais, técnicas, eruditas, populares, afetivas, agressivas, etc.

o    Como é cobrado: Analisar o impacto da escolha de uma palavra específica (ou de um campo semântico) para o tom do texto, a caracterização de personagens, a construção da argumentação ou a expressão de emoções.

o    Exemplo de Questão: "A utilização do vocábulo 'perfunctório' no lugar de 'superficial' no texto confere ao enunciado um tom mais: (a) Informal (b) Erudito (c) Humorístico (d) Agressivo (e) Regional." (Resposta: b).

·         Hierarquização das Informações: A forma como o autor organiza e prioriza as ideias no texto. O que vem primeiro, o que é destacado, o que é deixado em segundo plano.

o    Como é cobrado: Identificar a ideia principal de um parágrafo ou do texto; analisar a função da ordem das informações (ex.: da mais geral para a mais específica); reconhecer tópicos frasais.

·         Construções Metafóricas: Uso de metáforas que podem se estender por um trecho ou mesmo perpassar um texto inteiro (metáforas conceituais), estruturando a forma como um tema é apresentado.

o    Como é cobrado: Interpretar o significado de metáforas mais complexas ou extensas e seu papel na construção do sentido global.

·         Elaboração do Título:

o    Funções: Atrair o leitor, resumir a ideia central, antecipar o tema, criar suspense, ser irônico, estabelecer um jogo de palavras.

o    Como é cobrado: Analisar a relação entre o título e o conteúdo do texto; inferir o possível conteúdo a partir do título; identificar a estratégia utilizada na sua criação.

·         Jogos de Palavras: Uso intencional da polissemia (múltiplos sentidos de uma palavra), da ambiguidade, de trocadilhos.

o    Como é cobrado: Identificar o jogo de palavras, explicar os diferentes sentidos ativados e o efeito produzido (humor, crítica, reflexão).

·         Ocultação ou Explicitação de Fontes de Informação:

o    Explicitação: Citações diretas, indiretas, paráfrases com indicação da fonte (aumenta a credibilidade, permite a verificação).

o    Ocultação: Omissão das fontes (pode indicar apropriação indevida, generalização sem base, ou em alguns contextos, conhecimento já consolidado).

o    Como é cobrado: Analisar como o autor lida com as vozes alheias em seu texto e as implicações disso para a confiabilidade, a argumentação ou a originalidade do discurso.

Foco para o Professor de Português no Concurso:

1.       Analisar a Função: Não basta dizer "isto é uma metáfora". É preciso explicar qual o efeito dessa metáfora no contexto, o que ela revela sobre o tema ou a visão do autor.

2.       Perceber a Intencionalidade: Compreender que os recursos expressivos são escolhas do autor para atingir determinados objetivos comunicativos.

3.       Contextualizar: A interpretação de um recurso depende sempre do texto em que ele se insere.

4.       Relacionar Forma e Conteúdo: Entender como os aspectos formais (sonoros, lexicais, estruturais) contribuem para a construção do sentido.

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