IX. SEMÂNTICA
O estudo da Semântica é fundamental para a compreensão profunda da Língua Portuguesa e, consequentemente, para um desempenho sólido em concursos para Professor de Português, incluindo aqueles elaborados pela banca IDECAN. A Semântica se dedica ao estudo do significado das palavras, das frases e dos textos, bem como das relações de sentido que se estabelecem entre eles e dos diversos fenômenos que afetam a interpretação.
1. Relações de Significado entre Palavras
a) Sinonímia: Relação entre duas ou mais palavras que apresentam significados semelhantes ou muito próximos em determinado contexto.
Tipos: Sinonímia Perfeita (rara): Palavras que podem ser intercambiadas em todos os contextos sem alteração de sentido (ex: léxico/vocabulário, falecer/morrer em muitos contextos). Sinonímia Imperfeita ou Aproximada (mais comum): Palavras cujos significados são próximos, mas não idênticos, podendo haver nuances de sentido, intensidade, registro (formal/informal) ou adequação contextual (ex: casa/lar/residência/moradia; bonito/lindo/deslumbrante).
Função Textual: Evitar repetições empobrecedoras, conferir maior precisão lexical, marcar o registro de linguagem, produzir efeitos estilísticos. Como é Cobrado (inclusive pela IDECAN): Identificação de sinônimos para palavras destacadas no texto. Substituição de uma palavra ou expressão por outra de sentido equivalente, sem alterar o significado global da frase ou do texto. Análise das nuances de sentido entre sinônimos em um contexto específico. A IDECAN costuma apresentar questões que exigem que o candidato reconheça a palavra que melhor substitui outra no contexto, o que envolve não apenas a sinonímia, mas também a adequação vocabular.
b) Antonímia: Relação entre duas ou mais palavras que apresentam significados opostos ou contrários.
Tipos (para aprofundamento, embora a cobrança geralmente se foque na identificação): Antonímia Gradual: Admite graus intermediários (ex: quente/frio - pode ser morno, fresco). Antonímia Complementar: A negação de um implica a afirmação do outro (ex: vivo/morto, verdadeiro/falso). Antonímia Conversiva (ou de Relação Inversa): Descrevem a mesma relação sob perspectivas opostas (ex: comprar/vender, pai/filho, dar/receber).
Função Textual: Criar contraste, dar ênfase, construir paradoxos ou antíteses.
Como é Cobrado: Identificação de antônimos para palavras destacadas. Análise do efeito de sentido produzido pelo uso de antônimos no texto (contraste, oposição de ideias).
c) Homonímia: Relação entre palavras que possuem a mesma pronúncia (homófonos) e/ou a mesma grafia (homógrafos), mas significados diferentes.
Tipos: Homônimos Perfeitos (ou Homônimos Homófonos Homógrafos): Mesma grafia e mesma pronúncia. Exemplo: manga (fruta) e manga (parte da camisa); verão (estação) e verão (verbo ver); cedo (advérbio) e cedo (verbo ceder). Homônimos Homófonos (Heterográficos): Mesma pronúncia, mas grafia diferente. Exemplo: cela (pequeno quarto) e sela (arreio); concerto (sessão musical) e conserto (reparo); sessão (reunião), seção/secção (divisão) e cessão (ato de ceder). Homônimos Homógrafos (Heterófonos): Mesma grafia, mas pronúncia diferente (o acento gráfico ou a vogal tônica podem mudar). Exemplo: colher /ko'ʎɛɾ/ (verbo) e colher /'koʎeɾ/ (substantivo); gosto /'gostu/ (substantivo) e gosto /'gɔstu/ (verbo gostar, 1ª p. sing. pres. ind.).
Como é Cobrado: Identificação do tipo de homonímia. Distinção do significado dos homônimos a partir do contexto em que estão inseridos. Questões sobre ortografia frequentemente exploram homófonos.
d) Paronímia: Relação entre palavras que são muito parecidas na pronúncia e na grafia, mas possuem significados diferentes. Essa semelhança pode levar a confusões no uso. Exemplos Clássicos: comprimento (extensão) e cumprimento (saudação, ato de cumprir); infligir (aplicar pena) e infringir (transgredir); eminente (ilustre, elevado) e iminente (prestes a acontecer); tráfego (trânsito) e tráfico (comércio ilegal); descrição (ato de descrever) e discrição (qualidade de ser discreto); delatar (denunciar) e dilatar (expandir).
Como é Cobrado: Distinção do significado entre pares de parônimos. Identificação do uso correto do parônimo em determinado contexto frasal. A IDECAN pode apresentar frases para que o candidato identifique se o parônimo foi empregado corretamente ou para que escolha o termo adequado para completar uma lacuna.
2. Fenômenos Semânticos no Nível da Palavra e do Texto
a) Polissemia: Característica de uma única palavra apresentar múltiplos significados que, geralmente, guardam alguma relação de sentido entre si (originados de um mesmo étimo ou por processos metafóricos/metonímicos). O significado específico se atualiza no contexto. Diferença para Homonímia: Na polissemia, os vários sentidos estão associados a uma mesma entrada no dicionário (um só vocábulo). Nos homônimos perfeitos, são palavras distintas que, por coincidência, têm a mesma forma (diferentes entradas no dicionário). Exemplos: Ponto: sinal gráfico, local, questão, de ônibus, de vista. Cabeça: parte do corpo, líder de um grupo, parte superior de um prego, juízo. Linha: de costura, de pesca, de ônibus, de pensamento, de produção. Banco: assento, instituição financeira.
Como é Cobrado: Identificação dos diferentes significados que uma palavra polissêmica assume em diferentes contextos no texto. Análise da relação de sentido entre os diferentes empregos da palavra.
b) Ambiguidade (ou Anfibologia): Duplicidade ou multiplicidade de sentidos em um enunciado (palavra, frase ou texto), dificultando a sua compreensão unívoca.
Tipos/Causas Comuns: Ambiguidade Lexical: Decorrente da polissemia de uma palavra ou da homonímia, quando o contexto não desfaz a dúvida. (Ex: "Vi o banco vazio." - Qual banco?). Ambiguidade Estrutural (ou Sintática): Decorrente da má organização dos termos na frase, da colocação inadequada de palavras (especialmente pronomes e adjuntos), ou de construções sintáticas que permitem mais de uma análise. Exemplo: "O policial prendeu o ladrão em sua casa." (Casa de quem? Do policial ou do ladrão?) Exemplo: "Vi o menino correndo." (Quem corria? Eu ou o menino?)
Intencional vs. Não Intencional
Não Intencional: É um problema de clareza na comunicação. Intencional: Pode ser um recurso estilístico usado na literatura, publicidade ou humor para provocar reflexão ou criar efeitos de sentido.
Como é Cobrado: Identificação de trechos ambíguos. Explicação das diferentes interpretações possíveis do trecho ambíguo. Reescrita da frase/período para eliminar a ambiguidade (quando não intencional). A IDECAN costuma explorar ambiguidades geradas pela colocação de pronomes ou adjuntos adverbiais.
c) Adequação Vocabular: Seleção da palavra ou expressão mais apropriada para um determinado contexto comunicativo, levando em consideração: O significado preciso que se quer transmitir. O registro de linguagem (formal, informal, técnico). O público-alvo. A intenção comunicativa. As conotações e o campo semântico da palavra. Relação com: Clareza, precisão, concisão, coesão lexical e estilo. A impropriedade lexical pode gerar ruído na comunicação ou interpretações equivocadas.
Como é Cobrado: Julgamento da adequação de um vocábulo ou expressão em um trecho específico. Substituição de palavras por outras mais adequadas ao contexto ou ao nível de formalidade. Identificação de impropriedade lexical (uso de uma palavra com sentido diferente do pretendido). A IDECAN pode pedir para identificar a opção que substitui um termo mantendo não só o sentido, mas também a adequação ao estilo do texto.
3. Modalizações Discursivas: São as marcas linguísticas por meio das quais o enunciador (falante/escritor) manifesta sua atitude, seu ponto de vista ou seu grau de engajamento em relação àquilo que está dizendo (conteúdo do enunciado) ou em relação ao próprio ato de dizer. Revelam a subjetividade no discurso.
a) Modalizações Epistêmicas
Indicam: O grau de certeza ou incerteza do enunciador sobre a validade ou a verdade do conteúdo proposicional. Expressam noções de certeza, probabilidade, possibilidade, dúvida, suposição.
Recursos Comuns: Advérbios e locuções adverbiais que certamente, com certeza, realmente, talvez, possivelmente, provavelmente, quiçá, aparentemente, supostamente. Verbos modais: poder, dever (no sentido de probabilidade/possibilidade). Ex: "Ele pode estar em casa." (É possível). "Ele deve chegar tarde." (É provável). Expressões cristalizadas: é provável que, é possível que, parece que, acho que, creio que, ao que tudo indica. Futuro do pretérito: Para indicar hipótese ou fato incerto. Ex: "Ele teria viajado." Modo subjuntivo: Para expressar dúvida ou possibilidade.
Como é Cobrado: Identificação dos modalizadores epistêmicos no texto. Análise do grau de certeza ou incerteza que o modalizador expressa. A IDECAN pode pedir para classificar o tipo de modalização ou o sentido específico que o modalizador confere ao enunciado.
b) Modalizações Deônticas:
Indicam: Noções relacionadas ao dever, à obrigação, à permissão, à proibição, à necessidade, à capacidade.
Recursos Comuns: Verbos modais: dever (obrigação), poder (permissão, capacidade), ter de/que, precisar, necessitar. Ex: "Você deve estudar." (Obrigação). "Você pode sair." (Permissão). "Ele precisa de ajuda." (Necessidade). Expressões: é preciso, é necessário, é obrigatório, é permitido, é proibido, urge que. Modo imperativo: Para ordens, pedidos, conselhos (que implicam uma deonticidade).
Como é Cobrado: Identificação dos modalizadores deônticos. Interpretação da noção expressa (obrigação, permissão, proibição, etc.).
c) Modalizações Apreciativas (ou Axiológicas):
Indicam: Um juízo de valor (positivo ou negativo), uma avaliação subjetiva ou uma reação emocional do enunciador sobre o conteúdo do enunciado ou sobre os elementos nele envolvidos.
Recursos Comuns: Adjetivos e locuções adjetivas valorativas: bom, mau, excelente, horrível, interessante, lamentável, feliz, triste. Advérbios e locuções adverbiais de modo com carga valorativa: felizmente, infelizmente, lamentavelmente, curiosamente, surpreendentemente. Substantivos com carga afetiva ou avaliativa: genialidade, desgraça, beleza, horror. Verbos que expressam sentimento ou avaliação: adorar, detestar, lamentar, apreciar. Interjeições: Ah!, Oh!, Ufa!, Oba! Uso de diminutivos ou aumentativos com valor afetivo/avaliativo. Figuras de linguagem como a hipérbole ou a ironia. Como é Cobrado: Identificação das marcas de apreciação ou juízo de valor no texto. Análise do tipo de avaliação (positiva/negativa) e sua intensidade. Reconhecimento da subjetividade expressa pelo enunciador.
4. Efeitos de Ironia e de Humor em Textos Multimodais
a) Ironia: Figura de linguagem e recurso discursivo que consiste em afirmar o contrário do que se quer dizer ou do que realmente se pensa, geralmente com intenção crítica, sarcástica ou humorística. O sentido real é depreendido pelo contexto, pela entonação (na fala), por pistas gráficas (aspas, ponto de exclamação na escrita) ou pela quebra de expectativa. Em Textos Multimodais (charges, tirinhas, publicidade, memes): A ironia frequentemente emerge da contradição ou do contraste entre a linguagem verbal e a linguagem não verbal (imagem, som, diagramação). A imagem pode desmentir, exagerar ou ressignificar o que o texto verbal afirma.
Como é Cobrado (inclusive pela IDECAN): Identificação da presença de ironia no texto (verbal ou multimodal). Explicação do sentido irônico pretendido pelo autor. Análise dos recursos linguísticos e/ou visuais que constroem a ironia. Interpretação da crítica social ou da intenção comunicativa subjacente à ironia. A IDECAN costuma usar charges e tirinhas em suas provas, sendo a ironia um efeito frequentemente explorado.
b) Humor: Efeito cômico, divertido ou hilário provocado por diversos recursos, como a quebra de expectativa, a incongruência, o exagero (hipérbole), os jogos de palavras (polissemia, homonímia, trocadilhos), a ambiguidade intencional, a paródia, a sátira, a ironia, a caricatura.
Em Textos Multimodais: O humor é frequentemente construído pela interação criativa e inesperada entre texto verbal e elementos visuais e/ou sonoros. A imagem pode complementar, contradizer ou potencializar o humor sugerido pelo texto, e vice-versa. Charges e Tirinhas: Gêneros multimodais que exploram o humor para fazer crítica social, política ou de costumes. Memes: Fenômeno digital que combina imagem e texto (frequentemente com intertextualidade) para produzir humor rápido e viral.
Como é Cobrado (inclusive pela IDECAN): Identificação do efeito de humor no texto multimodal. Análise dos recursos linguísticos e/ou não verbais (visuais, sonoros) responsáveis pela produção do humor. Interpretação da mensagem, da crítica ou da reflexão que o humor veicula. Distinção entre diferentes tipos de humor (sátira, paródia, ironia cômica). A IDECAN valoriza a capacidade de interpretação de textos multimodais e a análise dos efeitos de sentido, incluindo o humor.
Dicas Gerais para a Banca IDECAN (e outras): Leitura Atenta do Texto Base: Muitas questões de semântica dependem fundamentalmente da interpretação contextual. A IDECAN costuma usar textos variados, incluindo literários, jornalísticos e multimodais. Foco no Contexto: O significado das palavras e os efeitos de sentido são determinados pelo contexto de uso. Não se prenda apenas ao significado dicionarizado isolado. Vocabulário: Ampliar o vocabulário ajuda na identificação de sinônimos, antônimos e na compreensão de nuances de significado. Análise de Provas Anteriores: Resolver questões de semântica de provas anteriores da IDECAN (ou de bancas com perfil semelhante) é a melhor forma de se familiarizar com o estilo de cobrança, os tipos de texto utilizados e o nível de aprofundamento exigido nos conceitos. Atenção aos Comandos: Verifique exatamente o que a questão pede (identificar, classificar, interpretar o efeito, substituir, etc.).
Ao dominar esses conceitos semânticos e praticar sua aplicação em diferentes tipos de texto, vocês estarão mais preparados para enfrentar as questões de Língua Portuguesa em concursos para professor, demonstrando a competência analítica e interpretativa esperada de um educador.
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